Intervalos Memoráveis
"A arte é o ofício da alma."
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Estandarte II

 

Subi, muitas vezes, àquela montanha esparsa

Caminho enevoado pelo semblante de um sol ardente

Rubros pássaros, recantos resguardados

Só, ao grito de uma nesga intrépida nevasca

E me ceguei, me cegaram, naquele prisma ambivalente.

 

Minha vida corria numa espiral louca, e,

Logo me fechei apertado,

Naquele grito sufocado por todos os passos noturnos

 

Correntes de ínfimas dúvidas, sobressaltado no meio da noite,

Mãos de pedra, coração gelado, destino tenebroso

Assombravam-me os pingos de chuva, gelados e aflitos na pele

Vivia, eu, na sombra dos meus temores, sim,

Um jazigo coberto dentro de mim mesmo

 

No embalo pausado desta perseguição

Não ouso sentir o bolso, no qual

Estão bem resguardadas as balas da minha caçada

Ó, alvorada bélica!

Céu turvo, sulcos e trilhas ambíguas!

 

Roubam-se os corações famintos

Trancafiados na asa da águia

Alinhados ficam os canhões

Que por desatino alucinam a alma

 

Agora, clarinetas estouram nas trilhas da noite, e 

O céu desperta talvez em nova alvorada

Mas eu, aqui, assusto-me com a cantoria

Ao longe dos trompetes macabros

 

Aviva-me, ó azul do Estandarte ao Sul!

Ó, ira profunda dos meus abismos!

Vermelho do Estandarte ao Sul!

Fortalezas desse oceano imenso!

 

Escuta, agora, a honra despertar, e 

O ritmo borbulhante das armas...

Perfurando o ar, alçando almas ao Senhor

O replicar das bombas nesta terra enferma

Fecundando o chão com este sangue moribundo

Guerreiros, vós sois!

 

Um novo capítulo rente ao espaço

Descompassos de fé 

Decisões de antemão

 

Fácil agora seguir pela curva,

Trilhas angulares

Uma pedra a desviar pelos calcanhares

 

Pois me vem a visão do morto

De encontro à minha face translúcida

Sem robustez, quadros de cor

E que assim ficou sem luz

 

Não é a morte, que

Encontra-me depois 

É ela, o clarão da vida

Um risco de sombra em mim

 

Acordo! Um júbilo para teus lábios

Felicita-la pelos teus temores

Unidos neste eterno já soído

Não mais o encontro da própria voz

 

Em suma a minha história

Meu caminho à própria morte

Remanso de cristais

Sozinho, a solitude no meio da noite

 

Pois que me acompanhará o clarão do fuzil,

Uma bala me espicaça e fere

Um jorro de sangue anil, que 

Estampa esta pele de silício.

 

Um silvo me recurva

Penso: - Adeus, Mabelle!

E cimento ao chão

Com o peso deste corpo,

De soldado não alforriado

Só digo-lhes: - Não retalhem esta face moribunda

Eterno ser, em cores sombreadas

Cabelos revoltos, pele terrena

Ritmo calculado na multidão do exército

Porque mais tarde eu volto a ser o capitão dos exilados!

 

Agora eu percebo as desventuras a que ameaço

Onde jaz o obelisco dos meus afazeres

Confesso, sim, o martírio da guerra

Das manifestações descabidas

Da amargura inegável, o ódio epidêmico

Ah, a minha alma implora aos céus!

Piedade desta criatura peregrina

Que soa o clarim, que faz somente o que não quer!

Ah, guerreiro! Luz divina sobre ti, Barbosa!

 

*Este poema participou do Concurso Literário Canon de Poesia 2012 e foi um dos 50 poemas selecionados dentre 3.000 inscritos, sendo assim publicado no livro 'V Prêmio Literário Canon de Poesia 2012' sob o pseudônimo Verônica Ventti.

Camila Carelli
Enviado por Camila Carelli em 25/01/2025
Alterado em 25/01/2025
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